Bom dia
Pessoal, vamos a mais uma postagem! E como eu já tinha adiantado, continuaremos
com o assunto do último post, o uso das drogas e seus condicionantes. Na
postagem anterior notamos o quanto o contexto pode interferir e digamos que até
influenciar os usuários de droga, no caso, continuaremos com a sustância
cocaína, ou melhor, os
abstinentes da cocaína que também são instrumento da pesquisa realizada na continuação
desse tema.
O estudo contou com quinze
participantes do sexo masculino com idade de 24 a 40 anos, a escolha não se deu
de forma aleatória, foi utilizada a metodologia qualitativa, levando em
consideração as informações relevantes, escolhendo assim esse número de
participantes para que não acontecesse uma saturação teórica. A entrevista
semiestruturada foi escolhida como instrumento de investigação, com o objetivo
de colher dados importantes para a pesquisa, à entrevista foi guiada por um
roteiro de questões compostas e relacionadas sobre a história do uso de droga,
fatores atribuídos à manutenção da abstinência, significados dados aos efeitos
da droga como a relação com o meio condicionante.
A seleção
dos indivíduos aconteceu pela técnica conhecida como “bola de neve” que permite
buscar uma amostra através de referências feita por pessoas que conhecem
indivíduos que são de interesse para a pesquisa. Alguns critérios foram estabelecidos para a
inclusão: estar abstinente de droga por no mínimo cinco meses, preencher os
critérios de DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) de viciados
em cocaína; não apresentar prejuízo severo na linguagem para que não tenha
perda na comunicação e não fazer uso de remédios para doença mental.
A maioria
dos participantes possui o segundo grau escolar completo e a minoria é casada,
sendo que o fato do vício pode ter influenciado na continuação dos
relacionamentos amorosos. Nas entrevistas foi possível traçar um panorama no
uso das drogas ilícitas, os estudos mostram que os viciados começam a usar
maconha quando tinha de 13 a 15 anos de idade, assim, acima dos 18 anos
começavam a usar cocaína. O fator
determinante para o inicio de uso de drogas foi a curiosidade, um fator
secundário, mas não menos importante foram as amizades e por fim as festas que
muitos frequentavam.
O sentimento
de fracasso e impotência diante da situação de uso de drogas é um dos efeitos mais
negativos que a vício trás. A questão da autoimagem é muito importante, o vício
gera sentimentos de fracasso e o inibi de responder de maneira adequada aos
desafios do cotidiano. O viciado cria uma imagem muito negativa de si, por isso
o tratamento é tão importante, que atua como um reforçador de comportamento,
sendo que se ele se sente amado pelo próximo, vai aprender a se amar.
Um ponto
muito importante é a questão familiar, muitos autores apontam a estrutura
familiar como um fator que influencia no risco ao uso problemático da droga,
por exemplo, pais que protegem muito os filhos, criam filhos em uma redoma, em
um mundo de visão irreal. Nessa questão a droga entra como algo que leva o
indivíduo que sempre teve tudo muito fácil, sem precisar se esforçar para
conquistar seus objetivos, algo novo, um prazer diferente do que ele está
acostumado, uma mudança em sua rotina. Por isso, muitos terapeutas chama a
atenção para esse fato de superproteção, como sendo um fator negativo.
Atualmente, a vinda de um filho mudou muito a estrutura familiar, a postura de
superproteção que os pais estão tendo está fazendo com que crianças e jovens se
tornem adultos inseguros e muitas vezes incapazes de tomarem decisões.
Recentemente esse assunto foi pauta de um programa de entretenimento de
televisão, pais que tomam as decisões pelos filhos, que se intrometem e não
deixam que criem sua individualidade e independência.
Enfim,
voltando ao ponto principal de nosso tema, os dependentes, nutrem um sentimento
de poder, se sentem poderosos e mais desinibidos sobre o estímulo da droga,
assim, associam que sem seu consumo seria impossível viver e mesmo o sentimento
de não poder usar leva a um estado de desequilíbrio. A cocaína oferece um
status de euforia e dão tudo que desejam isso acontece por causa das combinações
fisiológicas e psíquicas, creio que seja esse um dos fatores que levam as recaídas
com tanta frequência.
Uma questão
muito difícil de tratar são as recaídas, uma vez que, mesmo após anos de
abstinência, ela pode acontecer. Muitos dependentes tentam de várias formas a
abster do uso da droga, por diversos fatores, sendo familiares e até mesmo
religiosos, é como se necessitassem de algo em que se apegar. Um dos pontos
mais importantes é a mudança de ambiente, não expor o dependente a condições
familiares ao uso da droga é o ponto chave na sua recuperação. A mudança de
contexto, a mudança na convivência, ou seja, tanto os ambientes frequentados
antes quanto as pessoas que lembrem a drogam devem ser deixadas de lado.
Vejamos o
estudo do caso, pois uma entrevista que tem por limitação o tempo, o estudo do
caso é uma tentativa de ilustrar um das propostas da pesquisa. Serão realizados
encontros terapêuticos e seus resultados serão selecionados de acordo com a
relevância para a natureza do estudo, vários casos foram abordados, aqui me
apegarei ao do “K”, sem nenhum motivo especial e sim porque chamou minha
atenção. Lembrando que a abordagem adotada foi a Cognitiva Comportamental, que
prioriza o paradigma condicionante pavloviano como foco na aprendizagem complexa.
Dessa forma lembramos das propriedades condicionais que são estímulos que
ajudam a sinalizar a vinda das drogas, em que o dependente faz associação do
ambiente com a utilização das substâncias químicas.
Vamos ver
como realmente é a prática dessas questões, com 22 anos e em abstinência há
seis meses K começou o processo terapêutico. Estava desempregado por causa das
faltas constantes no último emprego, órfão aos 13 anos, usava maconha desde os
11 anos e pouco depois começou a consumir e vender cocaína e foi prezo. K teve
uma infância sofrida, a mãe estava sempre doente e o pai não mantinha um
relacionamento afetivo com ele e bebia bastante. Os encontros terapêuticos
duraram nove meses, e durante esse processo ele faltou três vezes com
justificativa.
Os encontros
terapêuticos têm como ideia geral de que o vício é realmente uma doença, e que
mesmo tendo uma ação no cérebro e que isso não seria uma situação irreversível,
assim eram descobertas as dificuldades e aplicados um arsenal de maiores
possibilidades. No decorrer dos encontros e nos relatos de K, foi apontado o
papel do condicionante, assim, o intuito era que ele aprendesse a discriminar o
seu estado corporal e os estímulos que se associavam a ele, que funcionavam
como antecedentes para o uso das drogas dos quais são estímulos específicos do
comportamento de K. Mesmo com todo
processo, k no decorrer dos encontros teve uma recaída e sentiu-se muito
envergonhado com um sentimento muito triste, k foi a um bar dai relacionamos o
ambiente, a importância do contexto com o uso, ele relembro e não se conteve.
Entretanto,
a eficácia do tratamento do vício, poderia estar focado nas associações de
representações atribuídas aos efeitos da droga interagindo com o contexto. As
características dos encontros são: reforçar o vínculo terapêutico, dar ênfase na
análise dos sentimentos para autoconhecimento; ampliar o repertório de auto
regras e expandir para o cotidiano; mudança de crenças ente outros.
Drielle
Teixeira Jardim Matrícula: 120029430 Turma: “C”
Referência
Bibliográfica
Almeida, A.M.C. (2008) Complexidade de associações
de estímulos condicionais de “occasion setting” do contexto do uso de droga,
com abstinentes de cocaína: uma interface ente o laboratório e a clínica.
Universidade de São Paulo: Tese de Doutorado.
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